segunda-feira, 16 de agosto de 2010

20% dos soropositivos morrem sem diagnóstico

 Mesmo garantindo tratamento da Aids gratuito e universal desde meados dos anos 90, o Brasil tem cerca de 20% dos diagnósticos da doença feitos só depois que o paciente morre.
A constatação é da pesquisadora Monica Malta, da Fiocruz, que analisou os 386.209 casos registrados no país entre 1998 e 2008 --no total, 141.004 pessoas morreram em decorrência da doença.
"Sem o diagnóstico, essas pessoas deixam de receber o tratamento que poderia fazer com que vivessem mais", diz.
 "Se a pessoa morreu sem saber que tinha HIV, pode ter tido comportamento de risco sem saber que poderia estar transmitindo a doença."
O estudo, apresentado na 18ª Conferência Internacional de Aids, em julho, é o primeiro com informações nacionais, com base em quatro bancos de dados do governo.
Foram analisados todos os casos confirmados da doença, e não aqueles em que havia apenas infecção pelo HIV --em muitos casos, a pessoa tem o vírus, mas ainda não desenvolveu a Aids.

EXAMES
A análise revelou que 57,8% dos doentes não fizeram exame de carga viral e 48,6% não fizeram exame de CD4 naqueles dez anos.
Quando se consideram só os usuários de drogas injetáveis, as porcentagens são ainda maiores.
Os exames são importantes para a definição do medicamento e para o monitoramento de sua eficácia. Recomenda-se que cada um seja feito três vezes ao ano.
Isso pode significar que essas pessoas não estão se tratando de maneira adequada ou, simplesmente, que não estão se tratando.
Ronaldo Hallal, assessor técnico do Ministério da Saúde, diz que uma possível explicação é o fato de parte dos doentes realizarem esses exames na rede privada. No país, 75% da população não tem plano de saúde e depende do SUS.
O ministério afirma ainda que uma parcela --sem dizer o número-- só descobre a doença quando já está perto da morte, sem tempo para fazer os exames --geralmente os mais pobres e os usuários de drogas injetáveis.
Sobre os 20% que morreram sem o diagnóstico, o ministério disse que não comentaria pelo fato de a pesquisa não ter sido publicada.

DOENÇA OPORTUNISTA
O educador social baiano Fabio Correia, 44, quase morreu sem saber que tinha a doença. Em 2000, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) decorrente da Aids. Passou semanas hospitalizado.
"Não tinha me passado pela cabeça que eu poderia ter Aids. Nunca havia cogitado fazer o exame de HIV", diz.
O coordenador da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, Veriano Terto Júnior, aponta problemas.
"A oferta e o acolhimento nos serviços de saúde são precários", diz. "E, por mais que seja garantido o sigilo, algumas pessoas ficam com medo da exposição." 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pessoas com mais de 50 anos diagnosticadas tardiamente com HIV morrem mais cedo

 Pessoas com mais de 50 anos com HIV têm mais probabilidade de serem diagnosticadas com o estágio avançado da doença do que adultos jovens, segundo um estudo britânico.
Elas também têm duas vezes mais chances de morrer dentro de um ano após o teste de HIV do que os jovens diagnosticados tardiamente.
"Existe um grupo de pessoas que não faz o teste porque imagina que não está em risco", disse Valerie Delpech, do Centro de Infecções da Agência de Proteção da Saúde do Reino Unido, em Londres, que trabalhou no estudo, publicado na revista "Aids".
Ela disse que o número de britânicos infectados pelo HIV triplicou nos últimos dez anos, atingindo mais de 55.000 em 2007. Enquanto os idosos representam apenas cerca de um em cada seis desses casos, o número de novos diagnósticos está crescendo mais rapidamente entre aqueles com mais de 50 anos.
"Os números ainda são pequenos", disse Delpech. Ela estimou que menos de um a cada mil britânicos foram infectadas com o HIV. "Mas todos podem estar em risco, e precisamos pensar sobre isso", afirmou.
De 2000 a 2007, o número de pessoas recém-diagnosticadas com mais de 50 anos saltou de 299 para 710. Em comparação aos mais jovens, a maioria dos idosos soropositivos eram homens brancos homossexuais.
Ainda assim, houve uma grande proporção de homens e mulheres heterossexuais entre os infectados, ressaltou a pesquisadora.
Quase metade deles foram diagnosticados em estágio avançado da doença. Cerca de 14% dessas pessoas morreram no ano seguinte, em comparação com apenas 1% dos indivíduos testados rapidamente.
Embora as razões não fossem claras para o aumento do contágio entre os mais velhos, Delpech disse que o maior número de divórcios e as melhores condições de saúde podem ter colaborado para o aumento da atividade sexual entre essas pessoas.
Em um estudo anterior de doenças sexualmente transmissíveis, Anupam B. Jena, do Massachusetts General Hospital, em Boston, descobriu que os homens de 60 anos que tomavam Viagra, remédio para disfunção erétil, tinham o dobro da taxa de DSTs do que aqueles não medicados.
Ele disse que o novo estudo deixou claro pela primeira vez que o número crescente de idosos soropositivos não se deve apenas ao fato de que agora os doentes vivem mais, por causa dos medicamentos mais eficazes. De fato, os pesquisadores foram capazes de mostrar que cerca de metade das pessoas diagnosticadas após o 50º aniversário tinham sido infectadas com 50 anos ou mais.
Delpech disse que devem considerar fazer o teste todos os homossexuais, pessoas que viajaram para fora do país e tiveram relações sexuais ou quem iniciou um novo relacionamento. Se diagnosticados e tratados prontamente aos 30 anos, essas pessoas podem facilmente viver até 75 anos.
"Não é tudo má notícia", acrescentou. "Se você for diagnosticado precocemente, há medicamentos altamente eficazes."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/779187-pessoas-com-mais-de-50-anos-diagnosticadas-tardiamente-com-hiv-morrem-mais-cedo.shtml 

Soropositivos morrem mais de doença do coração do que de Aids

 Portadores do vírus HIV estão morrendo mais de doenças como infarto, diabetes e câncer do que de causas diretamente ligadas à Aids.
Novos dados mostram um aumento desproporcional de doenças cardiovasculares e diabetes como causa de óbito em pessoas com HIV em relação à população sem o vírus.
Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro revelou que, no hospital da universidade, causas não associadas à Aids já ultrapassaram as ligadas à doença.
"Tudo leva a crer que, se essa ainda não for uma realidade em todo o país, em breve será", afirma Mauro Schechter, chefe do laboratório de pesquisas em Aids do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos líderes desse novo trabalho.
A equipe coordenada por ele também publicou um estudo que avaliou os índices de mortalidade em pacientes com e sem o vírus, a partir de dados de todas as certidões de óbito brasileiras ao longo de cinco anos.
Segundo a pesquisa, a mortalidade por Aids caiu entre 1996 (ano em que o Brasil se tornou o primeiro país em desenvolvimento a fornecer acesso universal aos antirretrovirais) e 1999, e desde então se mantém estável.

OUTRAS CAUSAS
No entanto, nos portadores do HIV, a mortalidade por outras causas, como doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças do fígado ou dos rins, subiu quase 8% ao ano. Já entre os não portadores do vírus, esse aumento não chegou a 3%.
No caso específico das doenças do coração, houve um aumento de quase 8% ao ano entre os soropositivos, contra apenas 0,8% na população em geral.
Segundo especialistas, a queda na mortalidade se deu com o acesso à terapia dos antirretrovirais. Mas os soropositivos não estão recebendo atenção médica para monitorar outras doenças.
Esse dado foi corroborado por uma pesquisa inédita, divulgada no último congresso internacional sobre Aids, realizado na Áustria.
"O sistema de saúde não aproveita a oportunidade para tratar esse paciente como um todo", critica Schechter.
O levantamento divulgado no congresso ouviu mais de 2.000 pacientes em 12 países, Brasil incluído, para identificar como o portador do vírus vê sua infecção e traçar um perfil de sua relação com médicos e sistema de saúde.
Um terço dos entrevistados foi enquadrado no perfil considerado de alto risco cardiovascular - mas 65% deles não estavam tratando seus fatores de risco para problemas cardíacos.
Além disso, 44% dos fumantes nunca discutiram com seus médicos as implicações do hábito para a saúde.
Para piorar, sabe-se que há uma associação entre algumas drogas usadas por portadores do HIV e doenças cardiovasculares.
"O que mais chama a atenção é a baixa porcentagem de pacientes que discutem com seus médicos fatores como tabagismo, excesso de peso, entre outros", diz Schechter, coordenador do estudo no Brasil. "É como se os médicos apenas vissem um vírus a ser tratado naquele paciente."
"Estamos começando a conhecer os efeitos do vírus e dos remédios a longo prazo. Esses pacientes estão envelhecendo e as exigências da doença mudaram. Agora precisamos nos adaptar a isso", completa o infectologista Esper Kallás, da Universidade de São Paulo.

VÍRUS E DROGAS PODEM ELEVAR O COLESTEROL
Estudos recentes sugerem que a própria infecção pelo vírus HIV, ao levar a um processo inflamatório crônico, pode ter relação com o aumento do risco cardíaco. Algumas classes de drogas antivirais também elevam o colesterol. Mas, é claro, os médicos recomendam manter o tratamento mesmo assim, para controlar a infecção.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/776910-soropositivos-morrem-mais-de-doenca-do-coracao-do-que-de-aids.shtml