Em
um novo estudo, cerca de metade dos pacientes com HIV em terapia antirretroviral
pulou a medicação sempre que bebia álcool, um comportamento desaconselhável que
pode levar a cargas virais mais altas, segundo os pesquisadores.
Quase
200 pessoas com HIV que estavam tomando drogas antirretrovirais e consumiam
bebidas alcoólicas foram acompanhadas durante um ano, e 51% delas paravam de
tomar o medicamento quando bebiam --esses mesmos pacientes tendiam a ter cargas
virais mais altas.
Lapsos
no tratamento podem se dar por esquecimento sob o efeito da bebida, mas a crença
muito difundida --e errônea-- de que misturar álcool e remédios para HIV pode
ser tóxico parece representar um papel importante.
Seth
Kalichman, professor da Universidade de Connecticut e autor principal do estudo,
disse que os pacientes precisam ser mais bem informados sobre a bebida e os
tratamentos para HIV.
"Os
males causados por não tomar a medicação são bem maiores do que aqueles causados
por misturar os dois, se a pessoa não tem doenças do fígado", disse Kalichman à
agência Reuters.
Sabe-se
que o consumo de bebidas alcoólicas interfere na adesão das pessoas ao
tratamento, mas "as consequências do uso inconsistente de remédios para o HIV
podem ser mais severas de várias maneiras", de acordo com Michael Ohl, professor
de medicina e doenças infecciosas da Universidade de Iowa, que não participou do
estudo.
Drogas
antirretrovirais suprimem o HIV, e pacientes devem tomar os medicamentos
continuamente para evitar um aumento na carga viral.
Além
disso, tomar o remédio de forma intermitente pode levar à resistência ao
medicamento, ou seja, os antirretrovirais perdem a sua potência.
Para
avaliar como o conhecimento dos pacientes sobre bebidas alcoólicas e a medicação
pode contribuir para a baixa adesão ao tratamento, Kalichman e seus colegas
entrevistaram 178 pessoas --das quais quase 80% eram homens-- que estavam usando
a terapia antirretroviral e que declararam beber álcool.
No
começo do estudo, os pesquisadores perguntaram aos participantes sobre seus
conhecimentos relacionados ao álcool, por exemplo, se eles acreditavam que os
remédios não funcionariam tão bem se misturados à bebida. Perguntaram também se
as pessoas não tomavam os dois ao mesmo tempo-- evitando os medicamentos, ou o
álcool.
Ao
longo do ano seguinte, o time entrou em contato com os pacientes todos os meses
para ver o quão bem eles estavam seguindo as suas receitas contando suas
pílulas. Ligavam também a cada dois meses para perguntar com que frequência o
paciente tinha bebido recentemente.
Além
disso, os consultórios médicos forneciam o nível de vírus no corpo dos pacientes
e suas contagens de células CD4, uma medida da saúde do sistema imunológico.
O
grupo de Kalichman descobriu que 51% dos pacientes evitava a medicação quando
bebia e que metade dessas pessoas tinha baixa aderência às suas receitas.
Metade
do grupo que não tomava as pílulas também declarou não ingerir os remédios até
que o álcool tivesse saído completamente do organismo.
"É
bem notável que cerca de 50% dos pacientes relatou fazer isso", disse Catherine
Grodensky, uma pesquisadora do centro de pesquisas sobre AIDS da Universidade da
Carolina do Norte, que não fez parte do estudo. "Para mim, é bastante
surpreendente que a porcentagem seja tão alta".
Em
comparação, dos pacientes que declararam não parar suas medicações quando
bebiam, 36% também não aderiam bem às suas receitas e 31% disse não tomar o
remédio até que o álcool tivesse sido eliminado do organismo.
"Acho
que já está bem demonstrado que o uso do álcool está relacionado à baixa adesão
ao tratamento e que a maior parte das pessoas pensa que é porque eles estão
afetados de alguma maneira ou esquecem - uma falta não intencional - enquanto o
estudo mostra que eles estão (frequentemente) pulando a medicação
intencionalmente", disse Grodensky.
"E
isso parece ter impactos significativos no tratamento deles", acrescentou.
"Pessoas
vivendo com HIV que deliberadamente param suas medicações quando estão bebendo
estão pondo seus tratamentos em risco", escreveram os autores no artigo,
publicado no "Journal of General Internal Medicine".
Ohl
disse que a crença de que antirretrovirais e álcool são uma mistura tóxica é
algo que ele ouve com frequência em seu consultório, mas que não há evidências
de que beber deva impedir que o remédio seja tomado.
Andrea
Sankar, professora da Wayne State University, que não participou do estudo,
disse que a crença provavelmente vem do conselho que médicos costumam dar a
pacientes, de que eles não devem beber enquanto estão em tratamento.
"Quando
médicos dizem, 'se você está tomando antirretrovirais você não deve beber', o
que acontece é que, ao invés de as pessoas pararem de beber, elas param de tomar
os remédios", declarou.
Segundo
Sankar, os consultórios médicos são o melhor lugar para começar a mudar esse
comportamento, para garantir que as pessoas continuem tomando a sua
medicação.
"Nós achamos que a solução é bem simples, basta educar os pacientes", disse Kalichman.
"Nós achamos que a solução é bem simples, basta educar os pacientes", disse Kalichman.
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